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Quem postou : Karol Hoffmann quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

A ortografia compõe entre as línguas escritas o capítulo que estuda e organiza a forma correta de se escrever uma palavra. Havendo problemas com hífen, acento e letra, isso é assunto da ortografia. Em geral, bons dicionários já resolvem nossas principais dúvidas, mas há certas combinações que deixam qualquer um sem resposta. Por que tivemos auto-suficiente com hífen e hipossuficiente com "ss"? Por que se escreveu semi-ácido, mas antiácido? A nova ortografia resolve tais problemas. Passam a ser escritas assim: autossuficiente, hipossuficiente, semiácido e antiácido.

Historicamente, a busca pela padronização ortográfica vive sempre em uma encruzilhada entre a escrita e a oralidade, entre a história da língua e seu uso contemporâneo, busca-se, enfim, a uniformização da diversidade. O Brasil, por si só, já é uma grandiosidade sem fim: em alguns lugares cortam letras, em outras acrescentam, uns abrem vogais, outros as fecham...em tudo que chamamos brasileiro há misturas maravilhosas acontecendo. Se projetarmos os outros países lusófonos, países que falam o português, cada um ao seu jeito, com sua graça e encanto próprios, aí a coisa fica desmedida.

Em 1943, oficializou-se no Brasil o primeiro acordo ortográfico, algo que foi muito útil para simplificar algumas grafias, como: optimo, director, gymnasio, officio, theatro... Claro que houve melhorias, mas as regras de acentuação foram superabundantes, situação remediada em 1971 quando elas foram simplificadas. Monteiro Lobato foi um famoso crítico da reforma de 1943, principalmente das regras de acentuação, algo que nunca seguiu:

"Há uma lei natural que orienta a evolução de todas as línguas: a lei do menor esforço...Essa lei norteia a evolução da língua e foi o que fez que caíssem as inúteis letras dobradas, os hh mudos, etc. A reforma ortográfica veio apenas apressar um processo em curso. Por si mesma a palavra phthysica passou a tísica, e o ph já havia sido desmontado pelo f. E assim seria em tudo. Essa grande lei do menor esforço conduz á simplificação da ortografia, jamais á complicação – e os tais acentos a torto e a direito que os reformadores oficiais impuseram á nova ortografia vêm complicar, vêm contrariar a lei da evolução! São, pois, uma coisa incientifica, tola, imbecil, cretinizante e que deve ser violentamente repelida por todas as pessoas decentes. Escrever 'há' ou 'êsse', ou 'ôutro', ou 'freqüência', só porque uns tais ignarissimos 'alhos', gramaticais resolveram assim, é ser covarde, bobo. Que é a lingua dum país? É a mais bela obra coletiva desse país."

Mas o acordo virou lei, foi ensinado nas escolas, usado pela imprensa e estabilizou-se. Agora, vivemos a mesma situação, porém com alterações muito menos traumatizantes. A nova ortografia passou a vigorar a partir de 1º de janeiro de 2009 e teremos até 31 de dezembro de 2012 para nos acostumarmos com as mudanças. Em 1º de janeiro de 2013, a língua portuguesa no Brasil passa a ser usada somente com base nas novas regras. Até lá, conviveremos quatro longos anos com as duas ortografias, a fim de que a assimilação seja feita sem traumas, nem escândalos.

Uma das principais obras de uniformização de nossas palavras é o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), lançado e atualizado pela Academia Brasileira de Letras (para consultas on line, acesse: http://www.academia.org.br), e uma nova edição está prometida para fevereiro de 2009, já com as devidas atualizações ortográficas. Nessa obra, muitas dúvidas serão superadas e grafias vacilantes serão uniformizadas. Os principais impasses, em resumo, ocorrem na formação de substantivos compostos, algo de dificílima regulação; já quantos aos prefixos e o hífen, em sua imensa maioria, o acordo simplificará o uso; na acentuação não haverá novos acentos, mas sim algumas regras que deixarão de existir.

Não deve o brasileiro pensar que o acordo retira de cena as dificuldades clássicas, como o uso de x, z, s, c, ss, sc, g, j... As novas regras atingem uma parcela ínfima e logo se perceberá que em momentos raros, muito de vez em quando, aparece uma palavra na grafia nova. Para exemplificar: embora esta página já esteja escrita com base nas novas regras, com quase 700 palavras até aqui usadas nenhuma se usou do acordo.

Outro fato relevante é que haverá a saída de vários acentos e do trema, mas isso não alterará a pronúncia das palavras, ou seja, em frequente, aguentar, tranquilo e sagui continue a falar o "u" normalmente. As palavras heroico e ideia não mais serão acentuadas, porém a pronúncia aberta não deve ser alterada. Aprenderemos a conviver com teia e geleia tal como vivemos em paz com "o acordo" e "eu acordo". Tudo será uma questão de tempo e uso e prevalecerá nossa memória auditiva, a mesma que distingue "sede de água" de "sede do clube".

Nessa fase de transição, torna-se muito importante o bom senso das pessoas envolvidas em avaliações e seleções de candidatos, a fim de que não haja abuso nas questões de provas. Os editais devem ser bem pontuais, dando ao candidato limites claros do que pode ser cobrado.

Principais mudanças ortográficas da língua portuguesa:

ALFABETO
Passa a ter 26 letras, ao incorporar "k", "w" e "y". A inserção das novas letras assim deve ser feita: ...j, k, l...v, w, x, y, z. Para lembrar-se da posição em que elas estão no alfabeto, pense da seguinte forma: JK (famoso presidente norte-americano); "w" é um duplo "v", primeiro vem um "v", depois "w"; já o "y" é a penúltima letra e é bastante usado em enumerações genéricas ("não se pode incriminar x, y ou z sem haver um motivo").


TREMA
Deixa de ser usado, a não ser em nomes próprios estrangeiros e seus derivados. Diante de quente e frequente, agora formalmente iguais, deve prevalecer a nossa memória auditiva, pois o "u" de frequente continua a ser pronunciado, embora ausente o trema.


ACENTO DIFERENCIAL
Da lista antiga, apenas ficaram dois usos; além disso, surgem dois novos, mas em situação facultativa, o que induz a um uso para situações de ambigüidade.

1. É de uso obrigatório no verbo pôr para que ele se oponha à preposição por e em pôde (forma do pretérito) para se distinguir de pode (forma do presente).


2. O uso é facultativo

em dêmos (forma do presente do subjuntivo) para que se distinga de demos (forma do pretérito do perfeito do indicativo)

e na palavra fôrma / forma para que se possa distinguir som fechado do aberto (a forma do bolo e a fôrma do bolo).


ACENTO CIRCUNFLEXO

1. Não se usará mais nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos crer, dar, ler, ver e seus derivados. A grafia correta será creem, deem, leem e veem; descreem, releem, anteveem, preveem, reveem.

2. Também foi abolida a regra que exigia acento em palavras terminadas em oo; passamos agora a usar: abençoo, abotoo, enjoo, povoo, voo, etc.


ACENTO AGUDO

1. Não se acentuam mais palavras paroxítonas que trazem os ditongos abertos "ei" e "oi": alcateia, androide, eu apoio, ele apoia, que eu apoie, assembleia, boia, boleia, claraboia, colmeia, Coreia, debiloide, epopeia, estoico, estreia, eu estreio, geleia, heroico, ideia, jiboia, joia, odisseia, paranoia, paranoico, plateia, tramoia.

Observação – o acento prossegue, porém, quando os ditongos "éi", "éu" e "ói" ocorrem nas palavras oxítonas: anéis, carretéis, fiéis, papéis, pastéis, céu, chapéu, véu, corrói, constrói, mói, herói.

2. Também não se acentuam palavras paroxítonas que trazem "i" e "u" tônicos precedidos de ditongo: baiuca, bocaiuva, boiuno, cauila, feiura, etc. Como são poucas e raras palavras, a alteração é mínima. Conclua que, exceto a situação acima, "i" e "u" tônicos precedidos de vogal recebem acento normalmente: atraí-lo, baú, construí-lo, Esaú, excluí-lo, Luís, país, alaúde, amiúde, Araújo, Ataíde, atraíam, atraísse, baía, balaústre, cafeína, ciúme, egoísmo, faísca, graúdo, juízes, miúdo, paraíso, raízes, recaída, retraí-lo, ruína, saída, sanduíche, etc.

3. Deixam de ser acentuadas as formas "que", "gue" e "gui" em verbos como averigue, apazigue, argui, arguem, oblique.

HÍFEN e PREFIXO

Para os prefixos (como: ante, anti, circum, contra, entre, extra, hiper, infra, intra, sobre, sub, super, supra, ultra) e em elementos de composição de origem grega e latina (como: aero, agro, arqui, auto, bio, eletro, foto, geo, hidro, hipo, homo, inter, macro, maxi, micro, mini, multi, neo, pan, pluri, proto, pseudo, psico, retro, semi, tele), seguem-se os seguintes usos:

1. Usa-se o hífen se a palavra seguinte se inicia com a letra h: anti-higiênico, circum-hospitalar, extra-humano, geo-história, anti-higiênico, anti-horário, micro-habitação, mini-hotel, pan-helenismo, proto-história, semi-hospitalar, sub-humano, super-herói, super-homem.

2. Havendo igualdade de letra entre o prefixo e a palavra seguinte, usa-se o hífen: contra-almirante, contra-ataque, anti-inflamatório, arqui-inimigo, auto-observação, micro-ondas, micro-ônibus, semi-internato, hiper-requintado, inter-racial, inter-regional, inter-resistente, sub-base, sub-biblioteca, sub-bonificação, super-revista, super-recurso, super-rotação.

3. Sendo vogais diferentes, a união deve ser feita sem a presença de hífen: aeroespacial, agroexportação, anteontem, antiaéreo, antiético, autoaprendizagem, autoelogio, autoestrada, extraescolar, extraoficial, infraestrutura, intrauterino, microambiente, microempresa, plurianual, poliesportivo.

4. Quando o segundo elemento começa com s ou r, devem estas consoantes serduplicadas, como em antirreligioso, biorritmo, contrarregra, contrassenso, antissemita, antissocial, autossuficiência, extrassensorial, fotossíntese, hipossuficiência, microssistema, minissaia, minissérie, motosserra, neorrealismo, ultrassom.

5. Quando o prefixo se une a uma palavra que não se inicia com r, s ou h, não há o uso do hífen, como em agrotóxico, antidrogas, arquidiocese, autodefesa, autotutela, biodiversidade, contragolpe, contramão, contrapartida, extralegal, extramatrimonial, hidromassagem, hipertensão, homofobia, minimundo, neonaturalismo, pseudomédico, retroprojetor, televenda, ultrademocrático.

Apesar da maravilhosa simplificação, há alguns problemas que devem ser reconhecidos:

– quanto aos prefixos des, in e re, há palavras que já se consagraram com a perda do h e a junção sem hífen: desabitado, desarmonioso, desumano, desumidificar, inábil, inumano, reabilitação, reabitar, reaver, reumanizar, etc.

– por força da tradição, ao prefixo co mantém-se a grafia já consagrada em algumas palavras, apesar da igualdade entre as letras: coobrigar, coobrigação, coocupar, coocupante, cooficiar, coordenar coordenação, cooperar, cooperação.

– nos prefixos hiper, inter e super, ao se unirem a palavras iniciadas com s, só se deve usar um s: hipersensibilidade, intersindical, supersafra, supersônico.

– nos prefixos circum e pan, haverá hífen caso a palavra seguinte se inicie com m, n, h ou vogal: circum-navegação, circum-hospitalar, circum-ambiente, pan-africano, pan-americano, pan-helênico, pan-mágico, pan-negritude.

– nos prefixos ab, ad, ob, sob, sub, haverá o uso de hífen se a palavra à frente começar por r: ab-reptício, ad-renal, ob-rogar, sub-raça, sub-reitor, sub-rogar.

– com os prefixos pós, pré, pró (quando usados com acento) e em ex, sota, soto, vice, vizo, o hífen é usado sempre: pós-graduação, pré-requisito, pró-alfabetização, ex-presidente, soto-mestre, vice-prefeito, vizo-rei.


Tira-teima
Nas palavras seguintes, faça a união:
1. agro + indústria =
2. ante + sala =
3. anti + horário =
4. auto + didata =
5. contra + razões =
6. inter + subjetivo =
7. micro + empresa =
8. poli + infecção =
9. super + abundância =
10. ultra + som =

Gabarito
1. agroindústria
2. antessala
3. anti-horário
4. autodidata
5. contrarrazões
6. intersubjetivo
7. microempresa
8. poli-infecção
9. superabundância
10. ultrassom

11/01/2009


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Poxa os cara não tem mais o que inventar! Tanta coisa mais importante para se fazer.

Bom agora nosso presidente vai saber escrever certinho!

One Response so far.

  1. Pra quê escrever certo, se o Lula nem ao menos lê jornal?

    http://www.adnews.com.br/midia.php?id=81994

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